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julho 14, 2010

Más influências dos seus amigos

Obesidade, depressão e outros problemas de saúde podem espalhar-se como vírus nas redes sociais.


Na sua opinião, as autoridades de saúde deveriam pegar em pessoas influentes com amigos com um peso normal e outros com excesso de peso e fazer o máximo possível para que ficassem magros. A sua simulação computorizada revela que, caso se impeça as pessoas certas de engordar, "Todas as outras pessoas caiem como peças de um dominó."

Parece uma ideia descabida? Não é assim tão disparatada como se possa imaginar. Muitos estudos recentes indicam que a obesidade, a depressão, o consumo de álcool em excesso e outros problemas de saúde podem espalhar-se lentamente como um vírus nas redes sociais.

Os estudos sugerem que uma das razões pelas quais as pessoas não são capazes de perder peso, deixar de beber demasiado ou deixar de fumar é porque os seus amigos, família e as grandes redes sociais as impedem de se comprometerem com mudanças significativas a longo-prazo. Segundo os estudos, não importa apenas os amigos e família, mas também os amigos de amigos e os amigos da família. Até à data, a maioria dos estudos analisou as redes sociais no círculo da pessoa. Os contactos sociais com quem interage online parecem ter uma influência bem menor.

Cortar as relações com um amigo com excesso de peso só porque os investigadores dizem que poderá haver um risco, está fora de hipótese para a maioria das pessoas. Porém, com modelos como o de Bahr, que foi publicado no ano passado na publicação Obesity, os investigadores estão a tentar conceber intervenções menos disruptivas para ajudar as pessoas a emagrecer ou deixar de fumar. Ao intervir junto de pessoas que representam os principais núcleos de uma rede social mais alargada, talvez se consiga melhorar os hábitos de saúde de todo um grupo.

Dois dos métodos que funcionaram na sua análise computorizada envolviam focar-se em pessoas com um peso normal ou bem relacionadas no limiar de um grupo social de pessoas obesas e certificar-se que continuavam magras. "Quando se estabiliza os limites dos grupos, [com o tempo] obtém-se um efeito de propagação," afirma Bahr. Quando a ênfase está nas pessoas com muitas ligações, as pessoas à sua volta emagrecem. O enfoque nos contactos com um peso normal impede a disseminação da obesidade.

Outro método que ele sugere que funcionaria: o governo pagar aleatoriamente a 1% ou 2% da população para continuar magra. O efeito iria alastrar-se gradualmente no país.

A ideia de aproveitar o poder das redes está a ganhar apoiantes no mundo empresarial. A Weight Watchers está a pensar como é que pode tirar partido das redes sociais no seu programa de emagrecimento. A empresa de cuidados de saúde Healthways usa o seu website para deixar de fumar, QuitNet, para apoiar 600.000 fumadores e ex-fumadores que estão a tentar deixar o vício.

Grande parte dos recentes estudos que ligam as doenças às redes sociais têm sido realizados por Nicholas Christakis, médico na Harvard Medical School, e James Fowler, cientista social na UC, San Diego. Ambos realizaram extensos estudos acerca de como é que os comportamentos em termos de saúde se disseminam nas redes sociais.

Em vários estudos, traçaram o carácter contagioso da obesidade, depressão, solidão e tabaco até às redes sociais. Estes dois investigadores estão a analisar as variadíssimas formas através das quais os amigos, a família e uma rede social mais alargada podem influenciar, negativa e positivamente, o comportamento em termos de saúde de uma pessoa. Ainda que os estudos não demonstrem uma relação de causa e efeito, ajudam a quantificar o impacto das redes sociais no comportamento em termos de saúde.

O seu estudo mais recente, publicado na semana passada na publicação Annals of Internal Medicine, constatou que o facto de uma pessoa ter uma estreita relação com outra pessoa que bebe demasiado álcool aumenta em 50% as suas hipóteses de se tornar alcoólica. O efeito de propagação prolonga-se mais dois graus; ser amigo do amigo da pessoa que bebe em excesso aumenta em 36% as hipóteses de um excessivo consumo de álcool.

À semelhança dos seus outros estudos, a investigação acerca do consumo de álcool baseia-se numa análise do Framingham Heart Study, o famoso estudo que, durante décadas, acompanhou mais de 12.000 pessoas para analisar os factores de risco cardíaco. Ao fazê-lo, reuniu bastantes dados acerca dos outros hábitos de saúde dos participantes, que Christakis e Fowler exploraram no seu estudo sobre as redes.

As mulheres exercem uma influência bem maior sobre o consumo de álcool de uma amiga chegada, aumentando em 154% as hipóteses de consumir álcool em excesso, enquanto os homens não exercem influência sobre os seus principais amigos. No entanto, este efeito ocorre apenas quando ambas as mulheres se julgam amigas chegadas.

Os cônjuges também exercem uma mútua influência. Quando uma mulher bebe em excesso, o marido tem mais 196% de possibilidades de beber em excesso, enquanto a relação inversa leva a um aumento de 126%. Christakis e Fowler também constataram que a abstinência é contagiosa da mesma forma. Uma pessoa tem 29% mais probabilidades de ser abstémio caso um contacto chegado não beba álcool.

Christakis pensa que os seus resultados podem ser usados para capacitar as pessoas. "As redes são apenas um factor. Algumas pessoas sugerem que o nosso trabalho descurou a questão da vontade individual. Mas, ao mesmo tempo, aumentámos a relevância da vontade individual. Se uma pessoa fizer uma mudança positiva na sua vida, pode afectar dezenas ou milhares de outras pessoas já que a sua mudança positiva propaga-se pela rede."

Um estudo prestes a ser publicado na revista Preventive Medicine por Tricia Leahey, investigadora na Brown Medical School, analisou um programa de emagrecimento financiado pelo estado em Rhode Island e constatou que o desempenho das pessoas depende se estas estão nas redes sociais certas.

O programa dividiu vários milhares de participantes em equipas de 10 e deu-lhes pedómetros para ver quem é que conseguia registar mais passos. Quando os colegas de equipa tinham capacidades idênticas no início da intervenção, todas as pessoas ficavam mais activas fisicamente, de acordo com os números de passos diários. Mas quando um grupo tinha uma distribuição variada em termos de actividade física, de muito grande a muito baixa, os que estavam no fim registaram um pior desempenho. A influência da equipa foi mais benéfica quando as pessoas tinham colegas que eram um pouco mais activos no início da intervenção.

Bahr sugere que se uma pessoa está a tentar emagrecer, poderá ser útil juntar-se a um amigo de um amigo em vez de tentar emagrecer sozinha ou com o amigo. Dessa forma, é mais fácil romper com a mentalidade do grupo social.

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